sábado, 12 de julho de 2014

Saga do Bunny : parte I

Devem-se questionar como é que de menina sossegada virei forasteira e coração-solto-sem-lei. Pois bem, preparem lá a rabinho na cadeira.
Estão a ver aquele clique que dá nas nossas vidas de vez em quando e torna o mundo num sitio horrível? As típicas noites em que o Mundo te cai em cima e não sabes para onde te virar? Pois, era uma dessas noites. E no meio de toda aquela entropia que era a minha vida , onde o relógio marcava perto das 4 da manhã, eu conheço-o. Vamos dar-lhe um nome, vamos chamar-lhe Bunny. Bunny apareceu do nada naquela noite e foi-me apresentado por um amigo, que na tentativa de se livrar de mim nessa noite me pediu para o levar a casa . Na verdade tive mesmo que o levar, tal era o estado dele relativamente a álcool. Foi um longo caminho até casa , se não tivesse tão cansada juraria que tinha dado duas voltas à cidade para o deixar numa casa que ficava a 15 minutos do local onde nos conhecemos. Como sossegada e sempre a achar que devo ajudar o próximo lá levei o rapaz até à porta de casa. Assim o deixei à porta do prédio e virei a esquina a pensar " nossa , mais dez minutos e enterro-me na casa, encerrando este dia de merda " até que oiço aquela voz que todo o caminho me disse que eu era de Erasmus e que nunca me tinha visto pela cidade , a praguejar " eu não consigo abrir a poooorta" (Para que consigam imaginar melhor isto, a voz dele bêbada  assemelha-se à voz do Bruno Nogueira num episódio do último a sair ). Respirei fundo e fui-lhe abrir a porta , subindo com ele na esperança que ele conseguisse abrir a de casa. Não conseguiu, e lá tive que ir abrir a porta.
Sempre com os princípios de menina de família e bem comportada , fiquei à porta do apartamento dele . Sempre fui uma boa observadora e em território desconhecido como aquele , tive que pôr em prática essa minha parte astuta. Ele entrou no quarto e meio a desfalecer caminhou até meio do corredor e disse para eu entrar. Recusei durante três segundos , mas novamente como menina que faz o bem queria certificar-me que ele ia acordar na cama e não na banheira. Entrei e fui directa ao quarto, para onde ele me guiava.  Dou dois passos para dentro e heis que ele se manda em estilo de mergulho para a cama. Com roupa, sem desviar os lençóis e calçado. O meu trabalho ali estava feito , time to go home, pensava eu. PENSAVA , digo eu bem. Ia a sair sorrateira e oiço uma voz vinda do meio de uma almofada a dizer " oh fica aqui, não vás embora" . " Não vou onde?Eu quero a minha caminha amigo, my home ya?  " perguntei eu ainda a tentar mandar embora o meu pensamento inocente de praticar o bem. Escusado será dizer que com meia dúzia de palavras ele me convenceu a ficar, até porque era de madrugada e eu realmente estava morta a todos os níveis. Sentei-me no puff dele e puxei uma manta observando-o a morrer com a cabeça enterrada na almofada. Sinceramente não sabia se havia de rir ou chorar. A noite foi estranha, aquilo mais estranho foi . E agora eu estava ali , na casa de alguém que tinha conhecido à uma hora e qualquer coisa e que agora estava numa espécie de ritual de pré-sono-alcoolizado. Fui "acordada" deste pensamento com o olhar curioso dele. Outrora com a cabeça enfiada na almofada, agora ele tinha um olho espreitando por mim. " Vais ficar ai a noite toda?" pergunta pertinente naquele momento, não tava com muitas intenções de estar perto dele , sabia lá se iria acordar sem um rim! Escusado será dizer que a minha faceta de gaja difícil não durou muito e lá me arrisquei a ficar sem um rim.
Como a minha missão de salvar o rapaz teve um extra, resolvi que iria ao menos compensar tal simpatia e descalcei-o . Descalcei-o, obriguei-o a levantar-se para puxar os edredons e depois lá o ajeitei para cabermos os dois. Sabem aquelas coisas irónicas que acontecem na vida? Pois é. Todas as pessoas que conheço nesta cidade têm camas grandes, de casal ou de solteiro, mas sempre espaçosas. Ironia ironia, a cama era minúscula, mas mesmo assim consegui deitar-me sem ter que estar encostada a ele. Quase via o chão com zoom, mas valores são valores e eu queria sair viva daquele quarto.  Vira aqui, vira ali, ainda a pensar no que se tinha passado na noite até o conhecer  e realmente quase que vejo o chão com zoom. Simpatia ou plano, ele lá me puxou para junto dele . Mas valores não dão miminhos nem consolam uma moça que tinha acabado de ver a sua vida social e emocional ser fechada com uma cortina preta. Agarrar para não cair, abraçar-me porque tinha frio. Algumas mãos marotas e pronto, valores um pouco abaixo. Não pensem já coisas! Qualquer moça gosta de dormir quentinha e abraçadinha , mas não precisamos de intimidades tão...intimas como isso que devem pensar. Não que eu tivesse que impedir algo, sejamos sinceros, porque nem o precisei de fazer. Homens com álcool , uma mulher e uma cama nunca dão bom resultado a não ser que a gaja o queira realmente com toda a sua alma. Chamem-lhe cansaço ou incapacidade dos homens, mas nada passou de mãos marotas e alguma roupa fora do sítio por quase-morte-masculina .
 Depois de muito reboliço incentivado por mim para ele não adormecer, ele cai num sono profundo . Só ai reparei realmente naquilo que tinha trazido a casa. " Nada mau miúda" pensei eu, de vez em quando também tenho pensamentos de conquista como alguns homens. Moreno e alto. Nada magricelas, porque mulher que é mulher gosta de agarrar a chicha ( como diria a minha avó) e aquecer-se no Inverno. Sem sentimentalismos , parecia um puto agarrado ao braço da mãe a dormitar. Uma carinha angelical , que nenhum mal do mundo daria vontade de esbofetear. Olhei ao redor e pensei " quarto de engenheiro, não falha". Havia quadros de cidades famosas pela parede e post its com formulas de termodinâmica e física quântica. Havia cadernos e livros de cálculo organizados numa estante e todo o quarto estava bem arrumado. O candeeiro continuava ligado e o meu telemóvel perdido algures nos lençóis.  Portanto, um cenário simpático pensei eu .  Decidi dormitar até ele acordar e ver o que viria a seguir.
Coisas que me irritam? Janelas que em vez de persianas têm portadas que deixam o sol entrar de manhã. Assim acordei eu sobressaltada, com um raio de sol mesmo no meio dos olhos ! Com jeitinho lá o consegui fazer largar-me sem acordar . Esperei que o colega de casa dele saísse , embrulhei-me num casaco dele e fui desbravar mato pela casa fora. Toda a casa estava destruída, cozinha toda imunda e corredor com coisas partidas. Sinceramente não me lembro bem de tar assim quando entrei mas já deveria estar. Entro na casa de banho e saio imediatamente. Fui puxada pelo meu lado feminino e de dona de casa ao deparar-me com uma casa de banho mais desarrumada e suja de vomito mais escandalosa do que as das Semanas Académicas.  Voltei ao quarto, onde realmente me sentia mais segura perante aquela casa estranha. Tentei enfiar-me na cama sem fazer alarido , sem êxito , pois quando me virei para me posicionar como se nada se tivesse passado ele acorda. Quando vejo os olhos abertos dele tão perto de mim , mil e quinhentas merdas me passam pela cabeça. Uma das quais óbvia  : será que ele se lembra de mim?
" Claro que me lembro de ti! Trouxeste-me a casa e depois eu pedi para que ficasses, sabia-se lá se não eras raptada ou algo do género" respondeu ele, já com uma voz de pessoa a sério e não garinizé bêbado. Posso ser muito difícil e teimosa no que toca a flirts, mas uma coisa nunca falha e ele soube-me ler muito bem. Bastou um " foda-se, ontem quando olhei para os teus olhos achei que estava realmente bêbado mas agora que olho vejo que são realmente lindos e hipnotizantes" e foi o que bastou para acabar o que na noite anterior tinha ficado a meio por quase-óbito dele.
Há coisas muito boas, mas eu sou uma pessoa extremamente responsável e ocupada e tinha autocarro para apanhar para ir para casa. Depois de muito tempo e tentativa de adiar o bilhete lá consegui sair das garras dele. Se a minha vontade era aquela ? Claro que não! Por ele eu ficava lá o fim de semana , mas eu como eterna menina do papá só dou prioridade a um Homem na minha vida . Mas mulheres gostam de mimos, mulheres gostam de se sentir amadas ou em ultimo caso sentirem-se seguras. Lá sai com a promessa de voltar lá assim que chegasse de viagem. Sai a correr para apanhar o autocarro. Deixei um anel e perdi as chaves de casa pelo caminho , tal era a pressa. Fui a correr atrás do autocarro e fui a viagem toda a dividir a minha cabeça com   a noite confusa da minha vida e o que se passou naquelas paredes.
 Homens pensam quando não devem e assim o pensam demais. Fui lá mal que cheguei à cidade do crime , mas em duas semanas nunca mais o vi. Em duas semanas , leram bem , porque não ficou por aqui.


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